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sábado, 20 de março de 2010

Por que escrevo?

Mário de Andrade
"O estalo veio num desastre da Central durante um piquenique de subúrbio. Me deu de repente vontade de fazer um poema herói-cômico sobre o sucedido, e fiz. Gostei, gostaram. Então continuei. Mas isso foi o estalo apenas. Apenas fizera algumas estrofes soltas, assim de dois em três anos; e aos dez, mais ou menos, uma poesia cantada, de espírito digamos super-realista, que desgostou muito minha mãe. ‘Que bobagem é essa, meu filho?’ – ela vinha. Mas eu não conseguia me conter. Cantava muito aquilo. Até hoje sei essa poesia de cor, e a música também. Mas na verdade ninguém se faz escritor. Tenho a certeza de que fui escritor desde que concebido. Ou antes... Meu avô materno foi escritor de ficção, meu pai também. Tenho uma desconfiança vaga de que refinei a raça..."

Fonte: SENNA, H. República das letras. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996.

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