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sexta-feira, 7 de novembro de 2008

...

Não não não não
Viver é uma dádiva fatal!
No fim das contas ninguém sai vivo daqui mas
Vamos com calma.


(Só por hoje - Legião Urbana)

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Auto Condenação



Qual o intuito de existência tão infame, ineficaz, enganosa?
Sem enganar ninguém, por ser farsante do que não existe, eu mesma destruo meus castelos.
Sou cavaleiro sem espada; padre sem igreja;
sou corpo sem alma enamorado sem amor;
mulher sem intuição.
Sou carcaça corrompida;
já se foi a emoção.
Sou carne, resta-me apenas putrefação.


Vanessa Rodrigues

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Vovó Bordadeira


Junto aos primeiros raios de Sol, vovó se levantava e punha-se a bordar.
De retalho em retalho, unidos largos pontos largos, em linha firme, surgia uma mesa repleta de guloseimas para que seus netinhos pudessem saboreá-las assim que acordassem. Mais um fio daqui, e uma obrigação de lá, bordava o grande relógio cuco que, todas as manhãs, despertava a criançada, avisando-as de que a hora da escola se aproximava.
Com o dever cumprido, vovó reclinava-se na cadeira e, com tons diversos, bordava pássaros e flores para lhe alegrarem a vida.
Os olhos às vezes doíam um pouco. Então, ela rapidamente pegava em sua caixinha, uma porção de linhas e, logo, uma preguiçosa rede na varanda se estendia a sua espera.
A vida era uma delicia, mas um tanto solitária na ausência dos netos, por isso vovó decidira, bordaria para si uma companhia. Pensou em um outro marido, mas achou-se velha demais. Foi nesse momento lembrou-se do amigo de infância e usando de suas linhas favoritas, num tom bronzeado, fez em um lance o cachorro Carretel. Brincaram até o cair da noite, só pararam porque as crianças da escola já haviam retornado.
Dessa forma, mais um dia se passou. Depois de um banho quente, vovó aninhou Carretel e os netos numa grande colcha de retalhos, costurados bem juntinhos por um fio sem comparação, o fio do amor.


Adaptação do texto A Moça Tecelã de Marina Colasante
Vanessa Rodrigues

De tudo ficaram três coisas...
a certeza que estamos começando...
a certeza de que é preciso continuar...
a certeza de que podemos ser interrompidos antes de terminar.
Façamos da interrupção um caminho novo...
Da queda, um passo de dança...
Do medo, uma escada...
D o sonho uma ponte...
Da procura, um encontro!


Fernando Sabino

Nós e a Bíblia


“Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para ensinar, para argumentar, corrigir e para educar na justiça, afim de que o homem de Deus seja perfeito e qualificado para toda boa obra” (2 Tim 3,16-17)

Dentro de nossas Igrejas discute-se a relação do povo com a Bíblia. É bem verdade que o homem tem fome e sede da palavra de Deus, mas em contrapartida, existe um grande desinteresse pelos escritos sagrados, considerados antigos e de difícil compreensão. Realmente, o ato de ler a Bíblia não é simples, e requer de nós fé em Jesus Cristo, que é o Caminho, a Verdade e a Vida. As pessoas não percebem quão atual são os textos bíblicos, pois não conseguem contextualizar o que Deus diz através de seus profetas e apóstolos, ou seja, para compreender a palavra divina é necessário que o homem veja a Bíblia como um espelho, e que as personagens representam cada um de nós, em suas virtude e falhas.
Isso tudo me recorda o Zé, um rapaz humilde, morador de uma pequena cidade no semi-árido Nordestino.
Numa das várias vezes que regressava de esgotantes caminhadas a procura de água, Zé deparou-se com um senhor bonachão à porta de um ônibus, que convocava homens de força nos braços e dispostos a trabalhar, a seguirem com ele rumo aos roçados de cana-de-açúcar do interior de São Paulo. Prontamente nosso amigo apresentou-se ao selecionador que logo viu em Zé um bom empregado. Mas, quando Zé preparava-se para embarcar foi segurado por um homem que lhe disse:
_ Sou um pai de família, dê-me esta chance de poder saciar a fome de minhas crianças e assim garantir suas vidas. Em nome de Cristo, eu lhe suplico!
Zé não era cristão e pouco ouvira falar de Jesus, mas atribuía a Ele uma frase que logo lhe veio à mente: “Ninguém tem maior amor do que aquele que da a vida por seus amigos.” (Jo 15,13). O jovem olhou para aquele pai desesperado e embora se sentisse tentado pela oferta de trabalho, cedeu seu lugar ao amigo de tanto tempo.
O ônibus partiu, e, em meio à poeira da estrada, Zé ainda podia ver o aceno de agradecimento daquele pai. Triste, porém conformado, o rapaz retomou a sua rotina.
Algumas horas após a partida, aquela cidadela recebeu a noticia de que o ônibus se envolveu em um acidente e que todos os viajantes haviam morrido.
Meses depois, a cidade, apesar do luto, vibrava com a novidade: uma multinacional instalou-se nas proximidades, recrutando jovens como Zé, para trabalhar com salário fixo e condições dignas de garantir um futuro.
Esta estória nos mostra como a Palavra de Deus esta viva e inserida em cada um de nós, mesmo naqueles que a desconhece. Somente o que sai da boca de Deus pode operar milagres grandiosos como os ocorridos com Zé, que mesmo sem entender acreditou, seguindo o sublime exemplo de Maria: ela quando não compreendia os fatos ocorridos com seu filho guardava tudo em seu imaculado coração.
Neste caso em particular somos convidados a fazer-mos o mesmo: preservar o irmão, e dar nossa própria vida, no entanto, vale lembrar que dar a vida pelo irmão não significa necessariamente morrer por ele. Dar a vida é também ajudar a quem precisa.


Por: Vanessa Rodrigues

Eternas Promessas


Vivemos em um mundo, no qual os valores cristãos perdem lugar diante de princípios provenientes da sociedade contemporânea. As relações humanas movem-se à sombra de interesses que vão muito além do amor ao próximo.
E essa mudança de valores alterou a forma com que o homem se relaciona com o seu criador. Quantas vezes, na hora da adversidade, procuramos a Deus, rezamos, iniciamos novenas e fazemos promessas, muitas vezes simples de serem cumpridas, porém quando as coisas se normalizam esquecemos o prometido. Contudo, lembremos o que diz o livro do Eclesiastes: “Se prometes algo a Deus, não demores em cumprir. Não lhe agrada uma promessa insensata, o que tiveres prometido, porém, cumpre-o! É muito melhor não prometer do que depois da promessa não cumprir o prometido” (Ecl. 5, 3-4). Não se promete o que de antemão não se pretende cumprir. Deus não é um comerciante e tão pouco necessita de nossos favores, ao contrário, somos nós que recorremos a sua infinita benevolência e graça. Devemos ser filhos dispostos a obedecer e aceitar os desígnios do Pai, usando de nossas provações para glorificar as maravilhas de Deus, e assim realizar o projeto divino em nossas vidas, ou seja, seguir a Cristo de coração aberto, preparados por meio da oração para desamparos, e cruzes que venham a surgir em nossa caminhada. Aquele que crê e espera tudo alcança sem a necessidade de comprometer-se em dar algo em troca ao Senhor, que espera de nós apenas o verdadeiro amor de filhos.
Portanto é necessário que abandonemos nossas vontades particulares e reconheçamos assim como fez Santa Terezinha: “Tudo fora de Deus não passa de vaidade”.




Por: Vanessa Rodrigues

quarta-feira, 1 de outubro de 2008


O cansaço deste passo,
causa dores.
O aperto de teus braços,
meus amores...
...Ei morena, guarda um pouco deste afago,
lembrai deste pobre fadigado.


Vanessa Rodrigues

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Tú padre...


Um dia como qualquer outro. O barulho das crianças que brincavam na rua, os cachorros que latiam e todos os barulhos cotidianos de minha vila, avisavam-me que seria um dia como os demais.

Busquei meu jornal. Segui até a sala, sentei-me na velha poltrona que pertenceu a Vovô. No jornal, relatos e mais relatos das mortes do dia anterior. Não compreendia porque me detive exatamente naquilo, talvez fosse o medo de um dia ter o meu falecimento relatado naquelas páginas.

Fui até a cozinha. O gato dormia tranquilamente depois de uma noite de vadiagem. Tomei meu café, e voltei à sala. O telefone tocou, rompendo todo o marasmo daquela manhã. Uma voz grossa, um tanto assustada, carregada de um sotaque espanhol dizia:

- padre se morrió!

- Quem esta falando? Que conversa é essa?

- Es verdad, el cuerpo estas no bar, llamado Don Sebastião. – desligou sem mais informações.

Corri a janela e dei uma espiada, Papai tinha uma quitanda em frente de minha casa. Percebi que o movimento era normal, as senhoras escolhiam suas verduras, e as crianças cutucavam as frutas. Da janela em que eu estava não conseguia ver Papai, mas tranqüilizei-me, pois se a quitanda encontrava-se aberta, ele certamente estaria lá, afinal, nunca confiou que Sandro, seu ajudante, fosse capaz de ficar sozinho no balcão.

Voltei à poltrona, peguei meu jornal e continuei lendo. O acontecido não me abalou, apenas criou pensamentos desagradáveis, mas estava certo que a ligação era um trote. Papai trabalhava.

Deixei o jornal de lado e comecei a pensar na vida, ou melhor, na morte. Pensei também em Papai, senti um aperto no peito. Resolvi, então, que iria ao tal bar e diria poucas e boas ao Espanhol. Onde já se viu brincadeiras desse tipo? Tanto ele quanto eu não estávamos mais na idade de tais coisas. Mas detive-me.

Decidi visitar Papai, me vesti de maneira adequada, e antes de sair dei uma nova olhada pela janela, para conferir o movimento. Já não havia uma alma sequer em frente à quitanda, estranhei, entretanto lembrei que Papai deveria ter fechado para almoço. Preferi não incomodar, e voltei à sala. Quando de repente o bichano entrou exibindo o cadavérico almoço que acabara de pegar. Pobre rato!

Eu era o único que não sentia fome. O telefone tocou novamente:

- padre...

Desliguei antes que a frase fosse terminada. Coisa de mau gosto, pensei eu, esse senhor está precisando que alguém lhe aplique um belo corretivo. Sai certo de que colocaria um ponto final naquela situação. Atravessei a rua e encontrei Sandro, ele parecia querer dizer algo, porém deteve-se. Entrei na quitanda, e constatei a ausência de Papai. O rapaz avisou-me que na noite anterior meu pai havia pedido que ele abrisse a quitanda. Fiz um sinal de que estava tudo bem e sai. De certo Papai devia ter consulta médica marcada.

Segui pelas ruelas que davam no bar Dom Sebastião. Como um gato que encurrala o rato, queria pegar aquele Espanhol e lhe dizer umas verdades.

O bar encontrava-se fechado, bati na porta. Ninguém atendeu. Insisti por mais duas vezes, e nenhuma resposta. Desisti e voltei a minha casa, procurando acalmar-me no caminho.

Em casa, servi-me do restante de café que ainda se encontrava no bule, sentei-me na poltrona a fim de esquecer tudo que ocorreu. Contudo, o telefone fez questão de interromper meu momento:

- Tú padre se morrió.

Por: Vanessa Rodrigues

QUANDO EU MORRER

Quando eu morrer quero ficar,
Não contem aos meus inimigos,
Sepultado em minha cidade,
Saudade.

Meus pés enterrem na rua Aurora,
No Paissandu deixem meu sexo,
Na Lopes Chaves a cabeça
Esqueçam.

No Pátio do Colégio afundem
O meu coração paulistano:
Um coração vivo e um defunto
Bem juntos.

Escondam no Correio o ouvido
Direito, o esquerdo nos Telégrafos,
Quero saber da vida alheia,
Sereia.

O nariz guardem nos rosais,
A língua no alto do Ipiranga
Para cantar a liberdade.
Saudade...

Os olhos lá no Jaraguá
Assistirão ao que há de vir,
O joelho na Universidade,
Saudade...

As mãos atirem por aí,
Que desvivam como viveram,
As tripas atirem pro Diabo,
Que o espírito será de Deus.
Adeus.


(Mário de Andrade)