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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Canção

... de árvores indevassaáveis
De alma escura sem passáros
Sem fonte matutina
Chão tramado de saudades
À eterna espera da brisa,
Sem carinhos... Como me alegrarei?

Na solidão solitude,
Na solidão entrei.

Era uma esperança alada,
Não foi hoje mas será amanhã,
Há-de ter algum caminho
Raio de sol promessa olhar
As noites graves do amor
O luar a aurora o amor... que sei!

Na solidão solitude,
Na solidão entrei,
Na solidão perdi-me...

O agouro chegou. Estoura
No coração devastado
O riso da mãe-da-lua,
Não tive um dia! uma ilusão não tive!
Ternuras que não me viester
Beijos que não me esperastes
Ombros de amigos fiéis
Nem uma flor apanhei.

Na solidão solitude,
Na solidão entrei,
Na solidão perdi-me
Nunca me alegrarei.

Rio, 22 de dezembro de 1940

Escrtito durante o período em que Mário de Andrade viveu no Rio de Janeiro, "Canção" pertence ao livro A Costela do Grão Cão, publicado no volume Poesias, de 1941.

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